House of Cards – Renan

Assisti ontem aos dois primeiros episódios de House of Cards, uma série nova produzida pela Netflix. Nela, Kevin Spacey é um inescrupuloso congressista americano no centro dos jogos de poder, indicações políticas e lobby de grandes empresas. Parece divertida pra quem gosta do tema. Além disso, considero um grande orgulho por ser uma produção própria da Netflix, mostrando seus dentes no ramo de produção de conteúdo.

House of Cards Renan Calheiros

Depois fiquei pensando sobre a trama dos primeiros capítulos e sua verossimilhança. Frank Underwood (Spacey) fica furioso ao não ser indicado como Secretário de Estado. Em seu lugar, é indicado o senador Michael Kern. Para destruir Kern, Frank faz vazar à imprensa um artigo anti-Israel escrito por Kern nos tempos de juventude. A opinião pública entra no jogo e Kern cai.

A grande bandeira de início do mandato do novo presidente é a Educação. Ele promete fazer uma revolução nos primeiros cem dias de governo. Mas Frank ainda quer se vingar por do presidente pela birra de não ter sido indicado com Secretário de Estado. Ele então deixa vazar à imprensa a versão original do plano de governo sobre Educação. O problema é que este plano de Educação é de extrema esquerda. A opinião pública dá sinais de desagrado e o congressista que criou o projeto é afastado. Frank assume a liderança do projeto de lei.

É ficção, mas acho que vale um pouco a reflexão com a situação do nosso congresso aqui no Brasil. Acredito que o jogo sujo seja semelhante, talvez mais, talvez menos. Mas a grande diferença que vejo é o descaso com a opinião pública. O episódio Renan Calheiros e Henrique Alves da semana passada foi um exemplo. Não importam as denúncias, não importa a população furiosa nas redes sociais. Em Brasília, deputados e senadores sobrevivem praticamente alheios ao impacto da opinião pública.

Acho que há duas questões importantes onde somos deficientes. Na primeira delas, pergunto-me se nossa opinião pública é capaz de julgar assuntos como o teor esquerdista de um projeto de lei ou as ideias anti-Israel de um senador. Na segunda preocupação, assumamos que nós brasileiros consigamos julgar e perceber os péssimos políticos que comandam o vapor em BSB. Mas, então, como nos fazer ouvir? Esperar até a próxima eleição e votar certo? Ficar esperneando na rede social e permear algumas almas com consciência política de prateleira?

Talvez as duas coisas sirvam para agir localmente. Fazer a sua parte votando certo e tentar levantar o debate político entre seus próximos.

Ficamos ansiosos por transformações, mas a História é contada em décadas. A questão está no cerne da nossa cultura e prática política.

O problema cultural deve se amenizar com o tempo. As pessoas vão ficando mais instruídas, recebendo mais informação, julgando melhor. Levaremos algumas décadas, mas vamos avançando. Nossos filhos terão um Brasil melhor, mais engajado e mais ético. Melhor: nossos filhos serão um Brasil melhor, mais engajado e mais ético.

E se não terão, pelo menos espero que façam um seriado responsa sobre a corrupção em Brasília. Hmm, melhor uma novela. Acho que a novela é uma mídia que atinge o público certo. Sem ofensas, nem pretensões – estamos no mesmo barco.

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